Atenção!

"(...) apesar de ter mergulhado de cabeça nesse misterioso mundo das lesões neurológicas e suas possíveis consequências, não sou médica. Tudo o que coloco aqui são impressões e experiências pessoais. (...) Enfim, não sou uma profissional da saúde, apenas uma mãe muito, muito, muito esforçada em início de carreira".



sexta-feira, 30 de julho de 2010

Fada do Dente

Filhinho, antes de começar deixa a mamãe explicar uma coisa: com o tempo você vai ver, aliás a essa altura já deve ter visto, que mamãe é bem ansiosa. Tô falando isso porque coloquei fada do dente no título, mas na verdade a fada do dente só aparece quando cai um dentinho e a gente coloca debaixo do travesseiro em troca de um presente pela manhã. E, no caso hoje, eu vou falar do seu primeiro dentinho que está apontando! Sentiu o grau da ansiedade? Essa é sua mãe. Mas, oh, já fui pior hein. Desde que você nasceu venho ganhando prêmios e mais prêmios pela minha paciência, antes totalmente inexistente.

Mas vamos ao que interessa: você está com uma serrinha na parte debaixo da boca, filhote! E foi a mamãe que sentiu pela primeira vez! Quem manda não tirar o meu dedo da boca?

A gente já tava desconfiado porque apesar de você sempre ter babado bem, ultimamente estava parecendo um buldoguisinho.

E aí, foi tiro e queda. Lá vem seu primeiro dentinho aí. Data registrada: 30 de julho de 2010, aos 8 meses. Tomara que essa compense todas as outras que eu já perdi... Sua avó vive me criticando por eu não ter anotado no seu álbum de papel o dia do seu primeiro banho em casa, do primeiro sorriso, da sua primeira papinha...

Tava muito ocupada aprendendo nossa nova rotina, pacotinho. Não tive tempo para isso não. E como arrependimentos não fazem parte do meu lema, vamos pensar agora no daqui pra frente. E ainda temos muitas estreias por vir. Você ainda precisa sentar sozinho, engatinhar, andar, falar mamãe, papai, comer sozinho... anotou? Vão bora que eu não tenho a vida toda não, hein. Avisei da minha ansiedade.

Que venham muitos dentinhos, filhote. beijo da sua mamãe.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Balangando

Balangando significa balançando, filho. É que seu pai tem mania de inventar umas terminações diferentes para as palavras, mamãe não sabe bem porque. Mas o pior é que o negócio acaba pegando e quando vejo, tô falando que nem ele...

Acho que já disse aqui o quanto balançar é importante pra você. Vale tudo. Desde o balancinho do aconchego do colo até um balanço heavy metal que tem na sala da sua terapeuta ocupacional, a tia Suzane. No meio do caminho, entram balanços medianos como rede, o balanço da pracinha sentado no colo da mamãe, seu balanço de patinho que a tia Tina emprestou, a bola de pilates... e por aí vai. O importante é balangar. E, ainda bem, você adora! Cai na gargalhada. Abre o bocão risonho, é uma festa.


A explicação para a necessidade de balançar é que sempre que você está em movimento, você automaticamente precisa ficar auto-ajustando seu equilíbrio. O fato de estar balançando te distrai, tira da sua cabeça qualquer outra coisa que te irrite e te faz se concentrar apenas em se organizar. E organização é uma das suas, - das nossas - palavras de ordem, pacotinho.

Grande parte do seu problema está na desorganização. Seja sensorial ou motora. E é impressionante como funciona. Como você se acalma. Como surte efeito. Às vezes, você tá que tá. Duro feito pedra, retesando os bracinhos, se esticando todo, gritando, dando faniquito.... Mamãe começa a balançar, parece que você esquece do que estava te irritando. Incrível.

Tudo isso pra dizer que ontem recebemos uma notícia ótima da mesma tia Suzane, que estava de férias e não te via há um mês. Ela ficou bem animada com o seu progresso. Disse que notou muitas diferenças. Que você melhorou muito! E nos deu os parabéns. Pra você que tá se esforçando e pra mamãe que está no projeto dedicação total.

Fiquei tão feliz, filho... Tão segura do que estamos fazendo. Tão certa dessa missão que tomei pra mim de te dar todo o apoio que uma mãe é capaz de dar. E tô descobrindo, filhote, que eu e você somos capazes de muito mais coisas do que eu imaginava. amo você. mamãe.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Lua, oh Lua...

Filhote amado,

mamãe e papai estão bem tristinhos esses últimos dias. Não, não tem nada a ver com você. Nosso pacotinho continua só nos dando alegrias. Mas é que a Lua, a nossa cadelona, está dodói. Na verdade, não é bem dodói. E esse é que o problema...

A Lua é uma pastora alemã enorme, dourada, linda, linda, linda que está com o papai há bastante tempo. Mamãe chegou depois na vida dela, mas foi adotada com todo o amor que um cachorro é capaz de dar. Isso mesmo. Ela me adotou para ser a mamãe dela também. A Lua é uma espécie de sua irmã mais velha, apesar de pela idade, já ter anos suficientes para ser uma outra bisavó sua. Lua está com cerca de 15 anos, não sabemos ao certo. E isso pros au aus é tempo à beça...


Várias vezes achamos que ela não ia aguentar mais muito tempo, mas ela continuou lá firme e muito, muito, muito forte. Lua sempre chamou atenção na rua. Mamãe e papai cansaram de sentir um baita orgulho dela enquanto estávamos passeando e éramos abordados por outros donos de cachorros que queriam cruzar seus filhotes com ela ou simplesmente por gente que queria elogiar a beleza dela em voz alta. Fez muito sucesso a Lua e por bastante tempo. Pena que nunca pôde ser mamãe. Ela teve problemas no sistema reprodutor e precisou tirar as mamas e o útero. Aguentou umas três ou quatro cirurgias sérias, sem pestanejar.

Lua mudou-se do Alto da Boa Vista onde o papai morava antes de conhecer a mamãe para um apartamento pequeno na Urca, quando mamãe e papai foram morar juntos antes de casar, e se adaptou incrivelmente bem. Sempre achamos mesmo fora de sério ela, que nunca havia saído pra passear e estava acostumada a correr num espação, aprender em menos de uma semana a usar coleira; passear na rua cheia de barulhos de ônibus, carros e etc; e ainda que cocô e xixi era do lado de fora. Uma lady a Lua, filhote, sempre foi.

Elegante, altiva. Loira, alta e magra. O terror da cadelada invejosa... O Rex veio no pacote junto com ela e apesar da mamãe ter simpatizado de cara com ele, sempre me identifiquei mais com a Lua. Na dela, sabe? Não chateava ninguém. Sempre muito limpa, com cara de responsável.



Então, só que agora a Leleca está arriada. Literalmente. As patas traseiras dela não levantam mais e agora ela depende totalmente do papai e da mamãe para levantar, para limparmos ela, para levá-la até a comida e a água... Já esperávamos por isso há um tempo. Displasia é algo comum em raças grandes. E ela vinha apresentando fraqueza nas pernas há um bom tempo. Mas nunca estamos preparados para quando acontece.

Ainda mais no caso da Lua. Que não tem mais nada. E era a isso que eu me referia no início. Que o problema é justamente esse. Ela não está doente. Não parou de comer, de querer fazer as coisas, não tem nada de errado com nenhum órgão, nenhuma doença mais grave tipo diabetes... Só a perna que não levanta mais. Mas esse 'só' é uma coisa enorme que dói no coração toda vez que a olhamos com carinha de triste por ter feito xixi onde ela sabe que não devia, mas porque não consegue levantar. É muito, muito triste, pacotinho.

Não sabemos mais quanto tempo ela vai aguentar ficar assim e nem mais quanto vai nos doer olhar pra ela incapacitada todos os dias. Estamos fazendo tudo o que podemos. A limpamos o tempo todo, viramos ela de lados diferentes para não machucar ainda mais a pele, procuramos dar comidas mais gostosas para tentar deixá-la alegre...





















Tomara que ela não esteja sofrendo muito.

Mamãe não queria te deixar triste. Mas quero que você saiba quem foi a Lua. Então, quis deixar aqui uma espécie de homenagem pra ela. Com muitas fotos lindas, para ficarem na sua e na nossa memória. Pra sempre.

beijo, pacotinho. Tomara que você também ame os animais.

domingo, 25 de julho de 2010

A cara do papai?

Oi meu mamulengo mais fofo do mundo, mamãe te chama carinhosamente de mamulengo também, tá? Mamulengo são aqueles bonecões meio desengonçados, mas muito simpáticos. Tipo você, meu filhote fofo toda vida. Meu bonecão do posto.

Mas, vamos ao que interessa: hoje mamãe quer criar polêmica.

Seguinte, existem correntes que te acham parecido com o papai e outro pesssoal que acha que você está cada vez mais parecido com a mamãe aqui! Seu pai encabeça o grupo 1 e vive sacaneando a mamãe, dizendo que um bebê nórdico que nem você não poderia nunca ter puxado minhas origens dignas da miscegenação brasileira. A verdade é que seu pai adora tirar onda de europeu, apesar de ter a maior cara de argentino...

Mas, enfim, o fato é que quando você nasceu, até eu te achei um mini Cesinha. O formato da cabeça, o conjunto do olho com a testa, sua pele alva e esse cabelo meio ruivinho que Deus te deu realmente te inclinavam para o lado do papai.



Mas aí, você foi crescendo, engordando, ganhando essas bochechas fofas e um olhar cada vez mais expressivo. Tudo bem que a pele e o cabelo, o colorido - digamos assim -, continua sendo dele, mas essa boca, esse nariz... essa careta inteira aí, tá muito mais pra mamãe, filhote!

E eu tenho provas! Cavuquei lá nos álbuns antigos da mamãe bebê, que sua avó guarda junto com outras milhões de tralhas na casa dela, e achei algumas que poderiam muito bem ser confundidas com fotos suas!

Olha aí:







E, aí, somos ou não somos cara de um, focinho de outro?

beijo da sua mamãe.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Integração Sensorial

Oi filho, hoje mamãe vai falar um pouquinho sobre integração sensorial. Uma coisa que você precisa muito melhorar. Mas que mamãe seja justa, já evoluímos bastante.

Há um tempo você tinha aflição de uma porção de coisas como quando colocávamos a mão no seu rosto para lavar sua boca, por exemplo. Ou quando encostávamos a planta do seu pé no chão. Até de água, você tinha um pouco de nervoso. Esse quadro está de acordo com a sua malfadada lesão. É muito comum que pacientes lesenionados na parte motora também apresentem dificuldades na parte sensorial. Aliás, a tia Suzane, sua terapeuta ocupacional, foi a primeira a nos dizer que para ela a sua questão principal era essa e não a falta de movimentos em si.

Segundo ela, você tem todos os movimentos. O que te falta é uma maior consciência do seu corpo e para que cada coisa serve. E isso foi uma notícia bem boa. Já que é mais fácil tratar essa questão sensorial do que uma real ausência de movimento.

Desde então, passamos a te pentelhar o tempo todo. E muitas coisas entraram na sua planilha de atividades. A principal delas é a escovação três vezes por dia. O que é isso? Mamãe tem que te lustrar com uma escovinha específica, utilizada em hospitais, no mínimo três vezes por dia. Isso ativa as sua terminações nervosas e deixa um estímulo no seu corpo todo durante cerca de uma hora. A coisa é séria mesmo. Houve estudos que comprovaram a eficácia dessa prática. Por isso, mamãe faz de tudo pra conseguir cumprir essa meta de três vezes por dia.

O toque também é outra coisa muito, muito importante. Te apertar, fazer carinho, fazer massagem, beijar bastante suas bochechas fofas, passar a mão nos seus pezinhos... Essa parte mamãe adora. Poderia ficar o dia todo apertando essas bochechas. Eu e o tio Jander, que mamãe já disse aqui que não se aguenta tamanha a sua fofurice.

Colocar seu pé na terra na pracinha, te levar pra praia pra brincar com areia, a tal brincadeira com feijão, com macarrão, com chantily. Passar sua mãozinha em toalhas, nos nossos amados cachorros, no cabelo da mamãe... Quanto mais texturas, temperaturas, gostos diferentes melhor.

O objetivo é a dessensibilização. Tirar essa sua aflição aí que é bem aflorada e fazer você não encolher os dedinhos ou virar o rosto quando algo sensorial acontece.



Você já melhorou muito como eu disse lá em cima. Atualmente no banho, por exemplo, mamãe pinta e borda com a água no seu rosto, passa o maozão e tal e você reclama muito pouco. Às vezes, nem isso. O feijão já virou seu amigo do peito. O pé na terra da pracinha também já até dá os seus tais passinhos serelepes. E você nunca recusa meus beijos e carinhos.

O que ainda pega é a escovação na planta do pé - mas que já foi pior -, nos ombros, nos braços e na palma da mão. Você atura, mas nitidamente se incomoda. Só nas costas e nas pernas é que não está nem aí. Já é uma grande coisa.

Outra coisa que você não gostava, mas na última vez que fizemos, você não se importou e até brincou foi mexer com papel celofane. Foi lá na tia Bárbara. A prova está no vídeo abaixo. Você continua só nos dando alegrias com seus progressos, pacotinho. Mamãe não cansa de sentir orgulho de você. Beijo na ponta do nariz.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Meu Pó de Arroz

Filhote, a essa altura você já deve estar mais do que enturmado com seu time e a torcida tricolor, mas é importante mamãe deixar registrado aqui que você é fluminense desde criancinha. E não havia mesmo outra hipótese.

Quem te deu seu primeiro macacãozinho que hoje não cabe nem no seu braço foi seu avô Pedro, pai da mamãe e o maior responsável pela escolha do time da família. Desde que me entendo por gente, lembro do vovô berrando, gritando, sofrendo e torcendo pelo verde, vermelho e branco. Aliás, a primeira vez que a mamãe viu o vovô chorar foi numa final de um campeonato longínquo em que o flu perdeu. Vovô levantou do sofá, foi pra varanda e começou a chorar baixinho, encolhido num canto. Fiquei tão assustada, filho. Queria que ele parasse, perguntava se ele tava dodói. E ele respondeu que, sim, tava doendo muito. Dali em diante, mesmo sem entender muita coisa, passei a compartilhar da mesma doença. E é assim até hoje.

Talvez por não ter tido filho homem, seu vovô acabou exagerando no culto ao futebol comigo e com a sua dinda. E o que dizer? Funcionou. Ficamos fanáticas que nem ele.

Ao longo dos anos, conforme mamãe foi crescendo, era muito engraçado perceber como eu sabia e gostava mais de futebol do que as meninas da minha idade. E quanto mais velha eu ficava, mais orgulho disso eu tinha. Até porque sempre foi uma porta de entrada para a rodinha dos meninos. Não é à toa que a maior parte dos moçoilos que passaram pela vida da mamãe seja fluzão. Incluindo seu pai, mesmo valendo meio. É, papai diz que é Fluminense, mas vê os jogos, quando vê, lendo jornal. E isso deixa seu avô louco da vida. Não sei mesmo como ele sobreviveu à época do namoro sem ser banido do nosso clã tricolor.

Pois é filhote, quem vai te levar ao Maracanã é a mamãe e o seu dindo, o tio Renato, esse sim um digno torcedor que deixaria seu avô babando de orgulho. Acho que se a mamãe tivesse casado com alguém assim, o vovô faria tudo o que eu quisesse para sempre.

Mas quis o destino que eu escolhesse e fosse escolhida pelo nosso amado torcedor de araque, que hoje em dia é tido como uma espécie de figura engraçada para nós os verdadeiros tricolores da família.

Não sei como estaremos quando você for ler isso, mas quando você nasceu o Flu escapou de ir para a 2ª divisão do Campeonato Brasileiro. No dia em que você nasceu, aliás, ganhamos um jogo decisivo. E confesso que mamãe respirou aliviada, pois estava tensa por ter colocado na porta do quarto do hospital um enfeitezinho dando as boas vindas a mais um tricolor que veio ao mundo. Deu sorte. Você deu sorte. Está dando sorte. Atualmente estamos em 2º lugar no mesmo Brasileiro do qual quase caímos ano passado. Está vendo? O mundo dá mesmo muitas voltas. E hoje você e o Flusão estão em franca recuperação. E a mamãe não poderia estar mais feliz com o progresso dessas duas grandes paixões.

love U. mamãe.

domingo, 18 de julho de 2010

Um pequeno passo para a humanidade, um grande passo para você, filhote!

Filhote querido, nunca me esqueço de uma frase da tia Lais, sua neuro. Na verdade, da resposta dela para uma pergunta da mamãe.

Assim que recebemos o resultado da sua ressonância, ficamos bem aflitos. Mamãe achou que estava mais preprada. Mas mesmo já careca de saber da tal história de que o exame não quer dizer muita coisa e o que conta é o quadro da criança, foi horrível receber o laudo em casa, num sábado à tarde, pega totalmente de surpresa. Estávamos esperando o resultado para uma semana depois. Só que a coisa adiantou e me desestruturou totalmente.

Eu estava sozinha em casa com você, quando tocou a campainha e um moço nos entregou aquele envelopão. Arregalei os olhos, subi, te deixei na cama e abri o envelope menor do laudo já com as mãos tremendo. Tava tão ansiosa que tudo ficou meio embaçado, mas a cada linha, meu coração foi disparando mais e mais. Eu não entendi quase nada, mas palavras como 'sequela', 'comprometido' e 'lesionado' ficavam como que piscando do papel em marca texto.

Larguei o troço em cima da cama, agora já com as pernas tremendo também, além das mãos. Corri pro telefone e liguei pro seu pai, já chorando e muito, muito nervosa. Ele tentou me acalmar e veio pra casa o mais rápido que pôde. E ainda que ele tentasse disfarçar, dava pra ver que ele também tinha ficado abalado. O pior de tudo é que sua consulta com a tia Lais seria no final da semana seguinte. Mamãe não aguentou esperar e ligou pro celular dela, implorando para que ela desse uma olhada no laudo que eu passaria por e-mail e já dissesse alguma coisa pra gente. E ainda bem, ela disse. No dia seguinte, mas disse. Não disse muita coisa, mas o suficiente pra nos segurar relativamente calmos até o dia da consulta quando aí assim ela olharia com calma as imagens todas.

E o dia chegou, o da consulta. E as palavras dela ao vivo foram um pouco menos tranquilizadoras que as do e-mail. Como médica, ela tinha que ser realista e nos falar com frieza tudo o que ela estava vendo. E o que ela viu, filhote, foi sim uma lesão bem grave, como já contei aqui. Mas também não deixou de reforçar insistentemente que a sua recuperação dependeria de você e da gente. E que a história de que a resposta da criança é mais útil que qualquer resultado continuava valendo. Ou seja, ela foi realista, mas de maneira nenhuma tirou nossas esperanças. Pelo contrário, deu mais indicações ainda de atividades para você fazer.

Foi então que no fim da consulta, mamãe perguntou: "Mas você acha que ele vai andar?" E ela então disse: "Quem senta, anda".

Bom, o que ela quis nos dizer, pacotinho, é que teríamos que ter muita paciência e ir atrás de um objetivo de cada vez. Antes de pensar em andar, tínhamos que torcer pra você sentar e assim por diante. Até você conseguir atingir todos os seus, os dela, os nossos objetivos. E assim fomos, meu amor. Daquela consulta em diante, que aconteceu em abril passado, intensificamos sua fisioterapia ainda mais; te colocamos na terapia ocupacional; na equoterapia; mamãe parou de trabalhar para se dedicar fulltime a você; e logo logo você vai entrar na natação.

Resultado: você hoje já fica sentadinho com apoio das mãos alguns segundos sem perder o equilíbrio. Para quem tá de fora, podem parecer passinhos de formiga, mas pra mamãe aqui, é um passo de elefante.

E por falar em passo, como mamãe já tinha dito, você ainda por cima, muito provavelmente por causa do lado ansioso que puxou da mamãe, já deu um jeito de dar seus passinhos. A gente sustenta seu tronco e você segue feliz da vida dando passadinhas que deixam mamãe e papai muito orgulhosos. Mostramos para seus médicos e todos foram unânimes em dizer que isso é muito, muito bom. Nos explicaram que há o reflexo da passada e a passada intensional e que no seu caso não há dúvida de que é intensional. Ou seja, quando seu tronco tiver 100%, vai ser só correr pro abraço. beijo da mamãe.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Antonio Pedro Pé de Feijão

Oi filho, hoje mamãe vai falar de brincadeiras. Oba! Bora ver se a gente faz esse povo rir, porque tem muita gente escrevendo pra gente dizendo que não pára de chorar. De emoção, é verdade... Mamãe está amolecendo coraçõezinhos por aí. Quem diria... Logo eu! Sou mesmo uma nova Adriana.

Bom, é preciso que eu te diga que brinquedo de criança é muito mais caro que as roupinhas que mamãe comprava pra ela. Ou seja, seu pai se fu... Era feliz e não sabia. Mas é impressionante, filhote. Qualquer trocinho que faz barulho é o olho da cara. Se piscar, então... Tocou música, ferrou, é assalto!

Mas, eu, como todas as mamães do mundo imagino, - ou pelo menos as que podem -, adoro comprar coisas novas pra você. Ainda mais porque nunca dá para adivinhar de qual traquitana essas lindas criancinhas vão gostar. Já gastei o equivalente a um vestido de casamento num super brinquedo que parecia um disco voador de tantas luzes, músicas e tal e você cagou na minha cabeça. Por outro lado, um chucalhinho de camelô, que veio até meio quebradinho, já foi seu companheiro noite e dia. São totalmente temperamentais, vocês crianças...

Ainda assim, continuo atirando pra tudo quanto é prateleira e vibrando quando acerto uma coisa ou outra. Atualmente, aliás já faz um tempo, seu brinquedo preferido é um livrinho sobre cores e formas, que fala o que está escrito e desenhado quando a gente aperta um botão. Você ganhou no seu batizado, da tia Piedade, irmã da tia Maria do Carmo, que é mulher do tio Zé Carlos, que é, finalmente, irmão do vovô Antonio! O que quero dizer é que às vezes as coisas que mais agradam podem ser dadas tanto pela mamãe que te vê todos os dias e teoricamente te conhece como ninguém, como por quem está bem distante, mas tem uma sorte danada de acertar na mosca. Dar brinquedos a crianças é uma espécie de loteria. Deveria ter prêmio.

Bom, outra coisa que você adora é seu chucalho colorido de madeira. Pesado que só, que deveria te machucar pela forma como você pega com tanta força, mas que você não está nem aí. Adora, mastiga, chacoalha... Quem deu esse foi a tia Cris, irmã do papai. Ela trouxe de Portugal quando você ainda nem tinha nascido. Deve ter sido tipo 2 euros...

Tem um também que você gosta, mas a mamãe gosta ainda mais porque as caras que você faz quando está olhando pra ele são as melhores! É um patinho tagarela, vindo diretamente do Caribe, na mala da sua bivó.

E quando eu falo tagarela não é mentira. Os botões só ligam, não desligam! Ou seja, apertou, o pato dana a falar e cantar e só pára depois de um longo tempo quando ele bem entende. E tudo em inglês! Seu primo Delano e seu tio Gennaro são testemunhas, já que foram eles que trouxeram a mala da bivó e vieram ouvindo o patinho incansável do aeroporto até em casa.

Tia Andrea e tio Antonio também te deram tipo uma TV psicodélica de pendurar no berço que é a maior viagem! Você fica doidão olhando pra aquilo. Já salvou a mamãe e a vovó muitas vezes, em momentos que nada te fazia parar de chorar.

Há pouco tempo, como suas mãozinhas estão melhorando e você tem consigo dominar mais seus movimentos, a gente tem brincado muito com coisa que aperta. Causa e consequência. É super importante, pois você vendo que tem sucesso, se anima pra continuar tentando fazer e com isso, os movimentos têm ficado mais coordenados.

Outra coisa que fazemos muito e que é essencial para sua recuperação é o balanço. Seja na rede; no tal balanço que ganhamos da tia Tina; ou no da pracinha, no colo da mamãe. Você adora. Ainda Bem. Cai na gargalhada. Pena que, em seguida, fica com soluço... Se não, mamãe ia ficar tentando te fazer gargalhar o dia todo. É uma delícia o som da sua gargalhada.

E, enfim, chegamos ao título aqui do post pra ninguém achar que mamãe é doida. É que brincar com feijão também é ótimo pra você. Aliás, com tudo quanto é textura diferente. Feijão, macarrão, chantily... É uma farra. Tia Tina mesmo fala pra mamãe lambusar bem sua mão, colocar tudo de comer na sua boca pra você sentir gostos e temperaturas diferentes. Tudo em prol da sua capenga integração sensorial. Mas quem inseriu o feijão em nossas vidas foi a tia Bárbara. Você começou no consultório dela e agora mamãe tem um potinho só seu em casa. Brincamos com ele quase todos os dias.

Neste video aí embaixo, mamãe ficou bem feliz porque apesar de você já estar meio cansadinho e com o equilíbrio bem ruim, tentou apoiar a mão no chão. E essa tem sido uma das coisas que estamos treinando arduamente na fisio. Sentar com apoio em mãos. Tamo quase lá, filhão! Beijo da mamãe.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Olha ela aí!

Enfim, eis a tia Tina, filho. Mamãe tava sem foto sua com ela, aí deixou pra escrever mais a fundo sobre a sua fono salvadora da pátria depois.

Tia Tina chama Maria Cristina Poyart, mamãe descobriu dia desses lendo a plaquinha da porta do consultório. Mas quando nos conhecemos, era só Tina, a fonoaudióloga. E isso foi há tempos. Lá na U.T.I da Perinatal. Graças a ela, você reaprendeu a mamar e, enfim, pôde voltar pra casa com a mamãe e o papai.

Deixa eu explicar melhor: todo nenenzinho quando nasce têm alguns reflexos imediatos. Um deles é sugar. Só que esses reflexos precisam ser estimulados nas primeiras horas de nascido para que a coisa engate. E, com você, isso não foi possível.

Em vez de pro meu peito, você foi direto pra caixinha da U.T.I. Como foi entubado, porque não respirava sozinho, ganhou também uma espetada na veia pra que fosse alimentado e hidratado com soro. E, depois, mesmo quando você já tinha saído do tubo, o soro se manteve, pois você precisou tomar alguns antibióticos preventivos. A novela continuou porque nas suas primeiras 48 horas de observação, você acabou tendo duas convulsões, o que fez com que precisasse de mais remédios. E durante toda essa lenga lenga, você continuou no soro e também recebendo leite por uma sonda.

Os tais remédios para controlar as convulsões, te doparam legal, filhote. E aí, até acharem a dose de manutenção que previnisse contra as convulsões, mas não te deixassem tão grogue, pode pôr duas semanas. Só aí você voltou a acordar aos poucos.

Ou seja, seu reflexo de sugar foi pra escanteio. Aí, olha a situação da mamãe: clinicamente, você já estava liberado para ir pra casa, mas só dava pra acontecer isso quando você conseguisse se alimentar sem a ajuda da maldita sonda. Nossa, quantas vezes papai e mamãe te deram leitinho pela sonda... ficamos craques. Nem precisávamos mais das enfermeiras. E era leite da mamãe, hein! Eu tirava todo santo dia na Perinatal de 4 em 4 horas, pra que você tomasse o meu leite e não o artificial. Tinha um baita orgulho disso. Eu era a campeã do lactário! Ninguém conseguia mais volume que a sua mamãe vaquinha aqui. Lá mesmo, eu comecei a doar leite para o banco do Fernandes Figueira. É, você divide seu lanche com amiguinhos desde pequenininho.

Enfim, foi aí que a tia Tina entrou na nossa vida. Com a nobre missão de te ensinar a mamar com a própria boca. Nunca me esqueço o dia em que eu estava desesperada, arrasada, por mais um fracasso com a chuquinha. Tava já sem forças, sem esperança. Achei que você não conseguiria nunca. E aí, tia Tina veio - já eram quase 11h da noite e nem era mais para ela estar lá-, e fez você tomar a mamadeira todinha! Você precisava ver a minha felicidade. Agradeci chorando. E, pela primeira vez em dias a fio, consegui dormir à noite quando cheguei em casa. Não sei se ela lembra desse dia, mas tá marcado como um dos mais importantes da vida da mamãe.

Dali em diante, você ficou meio irregular, às vezes mamando tudo, às vezes não. Mas aí, eu já era outra pessoa cheia de esperança e paciência.

E de repente, não mais que de repente, você engrenou e passou a mamar tudo vários horários seguidos!

E, então, aconteceu um outro dia que também é um dos mais marcantes da vida da mamãe: quando o tio Jofre, hoje seu pediatra e na época o médico chefe da U.T.I, cruzou com a mamãe no lugar onde lavava a mão e disse: "vamos programar a alta do Antonio para quarta-feira?". Era segunda à tarde. Explodi de felicidade. Também tenho esse momento gravado na memória claramente até hoje.

Eu e papai não queríamos contar pra ninguém. Queríamos sair quietinhos com você de lá e curtir nosso filhote em casa. Só nós três. Mas acabamos contando porque tinha tanta gente rezando, preocupada com você, que não achamos justo. Mas pedimos e fomos respeitados para ficar o primeiro dia em casa com você a sós.

Bom, me estendi. Mas voltando à tia Tina, foi mesmo graças à experiência dela, aos exercícios que ela ensinou pro papai e pra mamãe, que você passou a lamber os beiços.

Por que ela voltou a frequentar nossos dias? Bem, porque você logo largou a mamadeira e só quis saber do peito. Chupeta também, você jogou fora de cara feia. Não pegou. E aí, quando chegou a época de começar a papinha, suquinho, etc, mamãe tava tomando uma surra de novo.

Depois, ficamos sabendo que a sua questão motora também influencia bastante aí na sua dificuldade oral. Mais um motivo para recorrermos a santa tia Tina. Na primeira vez que voltamos a vê-la, agora já no consultório, você não queria saber de nada. Hoje já come sua papinha e suas frutinhas! Mamadeira é que: nem ela, nem mamãe, nem ninguém conseguiu te fazer tomar de novo. Brinco que você já é menino grande e só bebe de copinho e come de colherzinha.

E, assim estamos, filhote. Uma vez por semana tia Tina inventa uma moda diferente pra tentar fazer você comer e beber melhor. Já ganhamos bigode americano de Kinesio Tex; colher alemã molenga; copinho cortado; aprendemos a comer pulando em cima da bola de Pilates; cantando que nem doidos; e até no balanço! Nossa última aquisição. Mamãe saiu com um balanço de patinho debaixo do braço, mais sua bolsa, mais você... Se virando nos trinta. Bem ao estilo da tia Tina. Tudo ao mesmo tempo, agora. Acompanha quem consegue, e segue quem tem juízo.

Tomara que um dia a gente ainda possa agradecê-la com você mesmo falando obrigado. Essa é uma das maiores ansiedades da mamãe: saber se você vai conseguir falar sem problemas. Se não, tome de tia Tina!

beijo, filho!

terça-feira, 13 de julho de 2010

Seu Papai



Depois de ter dito no último post o quanto mamãe e papai ficaram mais unidos depois de você, fiquei morrendo de vontade de escrever um espaço inteiro só sobre ele, seu pai.

Bom, filhote, papai e mamãe estão juntos há mais ou menos 10 anos. E desde que nos conhecemos, bem no princípio, já falávamos em filhos. Na verdade, você até demorou pra vir. Mais por minha causa do que dele. Mamãe aqui nunca achava que era a hora a certa, sabe? Ninguém nunca acha e, olha, nunca terá uma. A hora certa é a hora em que acontece. Fiquei tanto tempo pensando no assunto e quando aconteceu mesmo, quando mamãe ficou grávida, foi no susto. Não que não estivéssemos pensando, mas é que foi muito rápido e nos pegou um pouco de surpresa.

Enfim, gravidez confirmada, vida que segue. Isso mesmo. Nada mudou muito na minha vida e na do seu pai. Demoramos um tempão até que a ficha caísse. E tenho pra mim, que só caiu mesmo quando você nasceu. Antes disso, fizemos tudo normal. Normal até demais. Ele não chegou a me tratar de maneira muito diferente por estar carregando o filho dele na barriga. E eu reclamaaaava... Mas não fazia muito efeito. Hoje entendo. Se pra mim, era difícil 'entender' que eu estava grávida, imagina pra ele, que realmente não sentia nada. Aliás, essa é uma das razões. Não senti quase nada enquanto estava grávida. Enjôo zero; mau estar muito muito de leve e de vez em quando; um pouco de sono a mais, mas nada que impressionasse; e a minha barriga demorou milênios até que pudesse se dizer que havia algo ali dentro.

Aí, até esquecíamos que alguma coisa nossa estava crescendo ali debaixo do nosso nariz. Até você nascer.

Na hora em que você nasceu, papai estava do meu lado. Na hora em que você não chorou, papai estava do meu lado. Na hora em que te arrancaram de cima de mim, pois notou-se que havia algo errado, papai e mamãe ficaram se olhando, sem dizer nada, mas dizendo tudo, durante todos os 40 minutos mais terríveis de nossas vidas. Não abrimos a boca porque tanto eu quanto ele sabíamos o que estávamos pensando: que você não ia sair dali vivo. Nunca mais vou me esquecer desses momentos e nem da força que seu pai fez para não desabar ali na minha frente. Naquele momento, eu e ele viramos pai e mãe. Mesmo sem saber se tínhamos um filho.

Dali em diante, com você já respirando mas ainda precisando de muitos cuidados, ele virou minha fortaleza. Incrível. Eu fraquejei várias vezes. Chorei muito. Quase pirei algumas vezes. E ele ali firme e forte, segurando a minha mão, sem perder a esperança e afirmando olhando nos meus olhos que você ficaria bem. Tantas vezes eu achei que só havia notícias ruins e ele sempre arranjava um jeito de me mostrar um monte de outras coisas boas.

Quando mamãe precisou ir pra casa e te deixar lá à noite sozinho, o papai deu um jeito de ser meu motorista, trabalhar e ainda voltar pra ficar com a gente um pouco lá na U.T.I e depois ouvir a mamãe antes de dormir todos os dias. Como eu precisava ouvir dele que tudo ia acabar bem... E ele nunca se cansou de dizer.

Uma vez. Uma vez só ele chorou no meu ombro. Mas, ainda bem, nesse dia, era eu quem estava forte e com a certeza absoluta de que você iria sair dali em breve com a gente.

Durante os 24 dias que você ficou internado, mamãe se desligou do mundo. Não falava com ninguém, quase não atendia telefone, não sabia nem que dia da semana era. Estava exausta. Seu pai, mais cansado ainda, já que além de tudo, ainda tinha que manter a cabeça fria para trabalhar, nunca ia dormir sem antes escrever uma espécie de relatório sobre como você tinha passado o dia para enviar para todos os nossos amigos e nossa família. Ele fazia aquilo com um orgulho imenso de cada melhora sua, de cada vitória nossa.

Depois que viemos finalmente pra casa, achei que ele então daria uma relaxada, deixaria a bola mais na minha mão. Ledo engano. Até os seus dois meses, pelo menos, ele fez questão de dormir com a gente na mesma cama e acordava junto quando você abria o berreiro pra mamar de madrugada. Muitas vezes foi ele quem trocou sua fralda e fez você voltar a dormir. Era ele quem teria que acordar cedo no dia seguinte, mas várias vezes ficava acordado pra mamãe poder descansar. Não sei como ele conseguia.

Com o tempo, eu mesma o convenci de que ele precisava dormir direito e era hora dele nos abandonar e ir para o outro quarto. Ele foi indo aos poucos.

Hoje, continuamos em quartos separados - sim você ainda mama e por isso ainda te coloco pra dormir do meu lado -, mas não tem um dia sequer que ele não chegue do trabalho e fique um tempão com você brincando e fazendo exercícios. Fora o questionário que eu aturo: fez o exercício tal? colocou o thera thog? fez a escovação? ... Eu respondo tudo rindo. Claro que eu fiz tudo, mas gosto de ver como ele se preocupa. Como ele está ligado.

Seu pai é um paizão, filhote. O melhor que você poderia ter. Mamãe te ama e ama o papai. Boa noite.

Erro Médico?

Pacotinho, todo mundo sempre me pergunta se o que aconteceu com você no parto foi erro médico. Já que à priori, não havia nada de errado nem com a mamãe, nem com você. Pelo contrário, nós dois ganhamos nota 10 durante toda a sua gestação.

Pois bem, antes que você um dia também me faça essa pergunta, já vou deixar a resposta aqui. E ela é: não sei.

O que a mamãe pode falar é o que me falaram e mais algumas coisas que ficaram encasquetadas na minha cabeça.

Bom, a versão oficial, o que disseram pra gente lá ainda no hospital foi que isso acontece. Como um acidente de percurso. Sem muita explicação. Mesmo com tudo aparentemente correndo bem; mesmo com você sendo monitorado minutos antes de sair da barriga, sem apresentar nenhum problema. Pode acontecer com qualquer um. E, acredite, acontece mesmo. Mamãe pesquisou, foi atrás de outras histórias, ouviu um monte de coisas e é verdade mesmo que há muito mais casos parecidos com o seu do que imaginamos, até acontecer com a gente e entrarmos nesse mundo dos nascimentos que dão susto.

Mas, por muito tempo, fiquei cismada com algumas coisas que aconteceram na sua sala de parto. Detalhes que acho que nem vale à pena ficar escrevendo aqui tim tim por tim tim porque, no fundo, eu não quero responsabilizar ninguém e nem acho que, caso tenha sido mesmo algum erro, ocorreu por negligência ou inexperiência. Mamãe confiava bastante na obstetra que te trouxe ao mundo. E ainda que essa relação tenha ficado inevitavelmente arranhada, não acho mesmo que vá fazer alguma diferença culpá-la.

Sua neuropediatra nos disse que muitas vezes pode ser algum problema por causa da anestesia. E me aconselhou a, caso fosse fazer parto normal de novo um dia, fazer sem nadica de nada. Pelo que entendi, acontecem casos da anestesia pegar um pouco na criança também e acabar deixando-a molinha. Não sei se foi isso o que aconteceu com você. Mas faria sentido. Já que eu realmente não senti dor a partir do momento em que fui anestesiada, o que leva a crer que era uma dose generosa. Cheguei até a me sentir culpada. Me martirizei por não ter pedido pra te ter na marra. Mas ninguém nunca tinha me falado desses riscos, então, não achei que seria preciso sentir dor de bobeira.

A verdade é que nunca vamos saber. Acho mesmo que ninguém sabe. Até a obstetra deve ter suas dúvidas e acredito mesmo, que ela deve ter passado as primeiras noites pós seu parto sem dormir ou, pelo menos, inquieta. Ela demonstrou muita preocupação com a gente, nos visitava no hospital sempre. Nos ligava. Acho até que isso deve ser praxe, mas senti que, no nosso caso, foi além. Ou seja, acho do fundo do coração que nem ela sabe se a culpa foi dela. Se um dia eu tiver a oportunidade, gostaria de dizer a ela que eu não a culpo. E que mesmo se tudo tiver acontecido por algum deslize dela, eu sei que não foi de maneira nenhuma falta de cuidado com a gente.

Shits happens. E, infelizmente, aconteceu com a gente. É essa a minha visão geral do nosso caso. Mas o importante não é chorar o leite derramado e sim olhar aí pra tudo o que eu e você construímos até aqui. Talvez nossa relação ainda não estivesse tão intensa, se não tivéssemos passado por tanta coisa em tão pouco tempo. Talvez eu ainda fosse demorar para me tornar a mãe que eu sou hoje. Você não me conhecia antes, mas sempre fui uma pessoa muito prática, impaciente, às vezes um pouco fria, às vezes bastante egoísta. Depois de você e com você, tudo mudou. Minha relação com o mundo e com as pessoas mudou totalmente. Minha forma de encarar uma série de coisas está diferente. Meus objetivos, minhas prioridades, meus atos são realmente outros. Minha relação com o seu pai ficou infinitamente mais forte e merece até um post especial um dia.

Enfim, muita coisa aconteceu depois desse possível erro médico. Tanta coisa que é mesmo de se pensar se foi mesmo erro ou apenas nosso destino. Aquela tal história de que Deus escreve certo por linhas tortas. Vai saber...

O importante, filhote, é que mamãe não guarda rancor de ninguém.

Mas, atenção, sem deixar meu lado prático totalmente de lado, virei uma espécie de defonsora e divulgadora de algumas coisas: 1) cesária é mais seguro sim. 2) escolha muito bem seu pediatra ainda durante a gravidez. É ele quem vai ter que concertar a merda, caso ela aconteça. 3) Na hora em que estiver lá para dar a luz, não deixe que ninguém te subestime. Se você falar que tá sentindo alguma coisa e não te derem muita bola, agarre o braço de alguém e grite na cara de quem for preciso. Faça-se ouvir!

beijo, filhão. Não canso de dizer, mamãe te ama.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Thera Thog

Meu pacotinho, mamãe também te chama de therathoguento. Sabe por que? É que você usa uma roupinha tipo de mergulho que chama Thera Thog. Quem inventou foi uma americana, Beverly Cusick. Que, aliás, teve a honra de te avaliar e te conhecer.

A tia Tina, sua fono, sempre ela..., já falava há um tempão da existentência desse treco. De como podia te ajudar. Mas que era muito caro. Aí, ela vivia falando que ia comprar um tecido parecido pra gente fazer uma adaptação pra você.

Mas aí, a tal Beverly veio ao Brasil dar um curso e a tia Tina se inscreveu. Desde que ela se inscreveu, falava o tempo todo como seria bom se a gringa desse uma olhada em você, mas que infelizmente não tinha mais vaga para inscrever pacientes. Só que ela é tão tinhosa, que lá, já com o curso começado, arranjou um jeito de fazer a americana precisar de um bebê para demonstração. E assim que ela convenceu a moça, rapidamnte disse que tinha a criança ideal para a tarefa.

E assim eu e você fomos parar em Niterói, na clínica onde foi o curso, para que a Beverly te usasse, por assim dizer. Mas, oh, quem saiu ganhando fomos nós. Primeiro, porque tivemos uma consulta grátis e ela falou muitas coisas legais sobre você, enquanto te avaliava. Tudo dentro do quadro que já sabíamos, mas foi bom ouvir da boca de mais uma profissional, um monte de sinais positivos que você demonstra. Os negativos, também já eram esperados. A segunda coisa legal, foi que ganhamos a roupinha de graça! É.. sua fantasia aí de mergulho custa em torno de dois mil reais. Não que a mamãe não fosse arranjar um jeito de comprar, se fosse necessário, mas que foi uma bela economizada, foi.

Bom, ok. Tudo muito bonitinho até aqui. Mas... Foi um parto até conseguirmos entrar numa rotina de colocar o thera thog todo dia. Você não gostava e mamãe aqui muito menos, já que eu era a carrasca que tinha que colocar em você. O troço já é difícil de pôr, com a sua falta de colaboração, então... eu ficava deprimida assim que acordava, pensando no escândalo que você faria e na árdua luta que eu teria pela frente. Mais uma. Fora que nas primeiras vezes, acho que o negócio apertou lá sua barriga e você dava cada golfadão sinistro... ou então ficava arrotando o tempo inteiro. Eu morria de pena e aí, ficava evitando colocar. E o seu pai só me espinafrando. Dizendo que eu estava sendo negligente e quem estava perdendo era você...

Sofri, filhote. Sofremos. Ainda sofro um pouquinho. Porque, por mais que eu já esteja bem mais craque no manejo da roupinha, ainda é bem difícil vestir e você continua sem ser muito fã desse momento.

Mas o bom é que acho mesmo que está surtindo efeito. Você tem estado mais durinho e menos puto por não conseguir fazer o que quer. Acho que está tendo mais controle e consciência do seu corpo. Tomara.

Eu e papai estamos torcendo muito pelos progressos do nosso Super Herói. Não parece roupa de Super Herói? Também brinco que você vai filmar um longa cheio de efeitos especiais, com aquele fundo azul, sabe? E o clássico do mergulho. Enfim, já estamos brincando com isso. Bom sinal. Sinal de que estamos mais relaxados. beijo, therathoguento

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Overwhelmed

Mamãe furou com você ontem, filhote. Aqui, digo. É que eu tava meio pra baixo. Um ataque de bobeira, misturado com cansaço que me fez pensar se eu realmente estava fazendo tudo o que eu podia por você. Nesses quase oito meses - atenção! a serem completados amanhã! -, já senti isso algumas vezes. Imagino que toda mãe deve passar por isso, tendo um pacotinho mais fácil ou mais difícil pra carregar. Mas no seu, no nosso caso a auto-cobrança e a cobrança geral é muito maior.

Hoje em dia já estou bem mais adaptada à nossa rotina, mas no início dá muito medo. A sensação é que não é possível dar conta. Mais ou menos como hoje em dia acontece com a quantidade de informação disponível em tudo quanto é canto. Antigamente, se a pessoa lia o jornal de papel que assinava, sentia-se bem informada. Hoje, temos que ler vários jornais, tem a internet, a TV, o rádio continua aí... A impressão é que nunca estaremos à par de tudo. E não estaremos mesmo. É preciso aprender a filtrar. A eleger. A equilibrar.

Assim como o que eu tenho que fazer com toda a informação que leio e recebo sobre o que fazer com você. Sobre todas as coisas a fazer com você. É tanta coisa...

Mas depois do susto inicial, eu decidi que iríamos conseguir e passei a encarar a coisa quase como um trabalho mesmo. Pra não me perder, fiz planilhas, calendários, colei cartazes pela casa, coloquei o celular pra despertar... Enfim, me cerquei de tudo o que eu podia pra não deixar passar nada. Com o passar do tempo, fui vendo que aquilo não iria funcionar. Não daquela forma. Eu nem curtia mais você. Só pensava no que eu tinha que fazer e no que eu já deveria ter feito. Qualquer momento com você era fazendo alguma coisa indicada por algum médico ou terapeuta seu. Eu era uma máquina de dicas, tentativas e execuções.

Pra cada médico, você é um paciente só. Mas pra mim e pra você, há toda uma junta que opina, que aconselha, que pede, que indica, que pergunta, que cobra. E aí, mamãe tava ficando doida e arrasada. A cada nova consulta ou sessão, quando começavam as perguntas se eu estava fazendo isso ou aquilo, quando chegava alguma coisa que eu não tava conseguindo fazer tanto, antes de responder, eu já me culpava até a minha décima encarnação. Sofri muito. Mais do que sua mãe, eu era sua enfermeira.

Só que eu não queria ver você como um paciente. Eu queria meu filho. Eu queria poder relaxar com meu filho. Queria poder brincar com você sem reparar se a sua mão tá indo pra trás, se seu pé tá virando ou se sua língua tá pra fora.

Aí, decidi em um determinado momento, que a partir dali eu seria dona da nossa rotina. Eu dosaria o que eu achasse que funcionava mais ou menos, eu revezaria atividades, eu elegeria se naquele dia você estava disposto ou não para encarar certas coisas. E foi assim, no convívio do dia a dia, que fomos nos conhecendo cada vez mais e melhor e você e eu fomos vendo do que você era capaz de aguentar, quando e como.

Quando eu deixei de te ver e de me comportar como um robô cumpridor de tarefas, consegui enxergar seu sorriso, consegui identificar seus sons, consegui deitar do seu lado e apenas ver televisão. Ainda que você fizesse questão dos backyardigans...

E assim estamos. Tenho uma lista interminável de possibilidades e testo, acato, faço mais e faço menos de acordo com o meu coração, meu olhar observador e o seu humor, talvez a haste principal desse tripé. Não adianta tentar nada, fazer nada, se você não estiver aberto pra receber. É total perda de tempo e ganho de sofrimento.

Gostaria de poder dizer isso pra todas as mães de crianças capenguinhas que nem você. Talvez se eu tivesse entendido isso mais cedo, teria sido mais fácil. Mas talvez isso também tenha que ser um caminho, uma descoberta pessoal. Torço pra que todas achem o equilíbrio que nem eu. Ainda que de vez em quando eu leve uns tombinhos inevitáveis. Que nem ontem. Mas já tô de pé. Segurando a sua mãozinha e te ajudando hoje e sempre.

com todo o amor do mundo,
mamãe.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Tia Bába


Pacotinho, hoje a mamãe ficou muito muito muito feliz com você. Foi uma das primeiras vezes que você aguentou sua sessão de fisioterapia do início ao fim sem dar seus ataques de perereca. Trabalhou direitinho, meu filhote. Sua fisioterapeuta, Bárbara Merecci, mexeu pra lá, mexeu pra cá e você ficou lá firme e forte. Seu tronco tá muito melhor. Você aceitou bem mais coisa hoje do que na semana passada, por exemplo. Está de parabéns. Assim a gente vai longe rapidinho.


Agora deixa eu te falar um pouco da tia Bárbara. Ela é sua fisioterapeuta desde que vc tinha 3 meses. Começamos indo nela uma vez por mês só para ela acompanhar seu crescimento. Depois, passamos para visitas quinzenais, quando você se mostrou meio enrolado aí com braços e tronco, até entrarmos no intensivão de duas vezes por semana, quando ficou mesmo bastante aparente que você não daria conta do seu corpo sozinho.


Desde que começamos nesse esquema terça e quinta, suas melhoras tem aparecido muito rápido. Você não conseguia pegar nada! Nem direcionar a mão, você direcionava. Umas sessõezinhas com a Tia Bába e rapidamente você passou a sustentar seu bendito chocalho de madeira que é um peso danado, mas você cismou com ele. Muito bem. Gosta de desafios, esse menino.


A tia Bárbara é especializada em fisioterapia com crianças e foi indicada pela tia Laís, sua neuropediatra, que um dia também vai ganhar um espaço considerável aqui. Além de você, ela atende uma porção de outros amiguinhos assim lindos e capenguinhas, que precisam de todo o nosso amor e carinho pra pegar no tranco.


Ela faz miséria com você. É bola, é bolão, é rolo, é lycra, é chão, é colo. Tem que se virar nos trinta pra você não se irritar de vez, fechar os olhinhos e simplesmente não aceitar mais nada. Parecemos um monte de palhaços de circo, tentando te distrair quando você ameaça jogar a toalha.


Tem sido assim há quase cinco meses. Mamãe tem muito o que agradecer a ela e muito o que se orgulhar de você. É impressionante como as suas respostas são boas, como você realmente quer ficar bom. Parece que entende o que a gente diz.


Hoje ela começou a te colocar de pé, apoiado no rolo. É uma grande evolução! Pensa só, pra quem não conseguia nem levantar a cabeça...


Um beijinho aqui tb pra tia Beth, assistente da tia Bárbara; pro Felipe, filho dela e outro fisioterapeuta excelente que já cuidou do pé e do braço da mamãe que desastrada que só vive se arrebentando por aí; e pra Dalva, sempre a postos com um café quentinho.

até amanhã, pacotinho.